No princípio era só o caos... depois Deus criou o firmamento e as estrelas. Veio o grande Boom da história. Milhões de anos de descanso para Deus e cansado de só coçar a barba Ele resolveu dar vida às muitas criaturas que tinha imaginado e foi aí que a situação se complicou... criaturas esquizofrênicas por natureza, ainda no útero da criação e já se perguntando “de onde eu vim, para onde vou?”. Foi então que Ele percebeu que tinha um reino na barriga e que precisava de um auxílio. Para cuidar dessa bagunça toda que Ele inventou, foi criado na Cúpula do Poder Divino, a Liga da Burocracia Estelar.
O Cosmo ficou em polvorosa, todos comentavam a respeito do edital do concurso. Foram abertas muitas vagas para trabalhar-se com Deus, era a chance para muitos se efetivarem no Céu. Todos corriam para xerocar documentos, autenticar outros, reunir diplomas, títulos e afins. Santos, Serafins, Arcanjos, Anjos e muitas outras criaturas astrais se mobilizaram em grupos de estudos, numa espécie de teocursinho preparatório. Gabriel, braço direito Dele, ficou encarregado das inscrições e da aplicação das provas. Ninguém teve coragem de colar na avaliação, pois diziam que Ele tudo vê e tudo sabe, prudente não arriscar. No sétimo dia após, revelaram o resultado do provão divino. Muitos comemoraram, fogos e festas! Outros, irritados e decepcionados resolveram mudar-se para o Umbral. Os aprovados, após apresentação da carteira profissional, começaram a trabalhar no próximo dia útil. Seria uma jornada dura e quase eterna, bateriam o cartão às 06:00 da manhã, pois Deus ajuda quem cedo madruga, e não sairiam mais de lá até estar salva toda a humanidade encarnada, mas para isso seriam muito bem remunerados com um tal de Jardim do Éden. Mesmo sem saberem quem era esse tal de Éden, Éder ou Éter começaram a trabalhar muito felizes, pois Ele era um Uno Bacana, e se estava oferecendo um jardim é porque esse tal de Jardim deveria mesmo ser um paraíso.
As baias eram todas brancas e tinham vasos de madressilvas nas mesas, espadas de São Jorge em vasos maiores e aos cantos das portas, pombas brancas voando para lá e para cá, evacuando bênçãos de labor. É hora de começar a trabalhar.
As repartições ficaram basicamente assim: Diretório do Carma, onde eram escolhidos os encargos do sujeito que iria nascer; Diretório dos Milagres, onde era decido que ajuda dar e a quem dar, Diretório das Grandes Causas, onde haviam várias discussões e fóruns a respeito de guerra, violência e política; Diretório das Pequenas Causas, onde eram discutidos problemas corriqueiros e situações diversas dos sujeitos encarnados e o Diretório da Morte, onde era decido a hora e como o sujeito morreria. Havia, é lógico, outros profissionais envolvidos nesse Mutirão do Amor Divino, desde faxineiros astrais, secretárias e recepcionistas poliglotas falando Esperanto e Hebraico, até freelancers do destino. Era um projeto admirável e grandioso, e tão grandioso, que graças a Deus, que era de Deus.
Vejamos o funcionamento de seus diretórios com mais detalhes.
(só no próximo post)